"Quando nos apaixonamos, ou estamos prestes a apaixonar-nos, qualquer coisinha que a pessoa faz - se nos toca na mão ou diz que foi bom ver-nos, sem nós sabermos sequer se é verdade ou se quer dizer alguma coisa - ela levanta-nos a alma e põe-nos a cabeça a voar, tonta de tão feliz e feliz e de tão tonta.
E, logo no momento seguinte, larga-nos a mão, vira a cara e espezinha-nos o coração, matando a Vida e o Mundo, e o Mundo e a Vida que tinhamos imaginado para os dois.
Lembro-me, quando comecei a apaixonar-me por ela, da exaltação e do desespero que traziam essas importantíssimas banalidades. Lembro-me porque ainda agora as senti. Não faz sentido dizer que estou apaixonado por ela. Ainda estou a apaixonar-me, apesar de tudo.
Gosto mais de estar com ela a fazer as coisas mais chatas do mundo do que estar sozinho ou com qualquer outra pessoa a fazer as coisas mais divertidas. As coisas continuam a ser chatas. Mas estar com ela é divertido. Não importa o que se está a fazer. O que importa é estar com ela.
O Amor nunca fica resolvido nem se alcança. Cada pormenor é dramático. De cada um tudo depende. Não é qualquer gesto que pode ser romântico ou trágico. Todos os gestos são. Sempre. É esse o medo. É essa a novidade. É assim o Amor.
Nunca podemos contar com ele, é por isso que nos apaixonamos por quem nos apaixonamos.
Porque é uma grande distracção vivermos assim. Com tanta sorte..."
Baseado in "Quando nos apaixonamos", Miguel Esteves Cardoso
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