sábado, 1 de março de 2014

Vultos

"A cidade está deserta e alguém escreveu o teu nome em toda a parte. Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas. Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura. Ora amarga, ora doce...Para nos lembrar que o amor é uma doença, quando nele julgamos ver a nossa cura."
 Ouvi Dizer - Ornatos Violeta in O monstro precisa de amigos

Melhor definição para o amor não encontrei até hoje. O amor é de facto uma doença silenciosa. Não dá direito a baixa médica, não há curas, comprimidos, injecções ou xaropes para que ele passe. E era bom que ele passasse tão silencioso quanto vem. Seria tudo mais simples. 
É o amor e o sonhar que são doenças. Quando sonhamos criamos esperanças e expectativas. E quando o sonho é bom, quando é tão real que sentimos tudo: cheiros, toques, lábios...Cabrões dos sonhos. Enganam-nos e fazem-nos sempre querer mais. E fazem-nos querer voltar para trás neles mesmos. Quem de nós, já não desejou voltar a trás no que estava a sonhar ou com o que sonhou na noite anterior?
Sonhos e amor estão sempre interligados. Como dois vultos, que se escondem nos cantos escuros do quarto enquanto estamos a dormir...e juntos gozam e riem-se de nós. Fazem planos, estão horas a delinear estatégias só para nos passar a perna e fazer-nos cair de cara no chão. 
Quando somos miúdos, falam-nos do bicho-papão mas, nunca nos falam que os verdadeiros monstros, à noite, são mesmo o amor e os sonhos. Esses sim, metem medo. É bom sonhar? Sim. É bom amarmos? Completamente. Mas esses bichos têm sempre o dom (sempre!) de nos fazer bater com as orelhas nalguma esquina da vida e lixar-nos os planos.
É bom sentirmos isto tudo... Melhor seria conseguirmos manter aquilo que amamos e aquilo com que sonhamos.
Era tudo muito mais simples e indolor.
Mais indolor seria não sentir nem sonhar com nada. Será o próximo patamar a explorar na evolução.

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