O que é que se passa com as pessoas onde em dia? Só vivem para o material. É o copo que bebemos a mais, o "vomitou-se todo!", a vida loca, o estilo, a pose. Vivem e respiram para o material. Para o show-off. Para se humilharem, pisarem e sairem por cima das situações. Não consigo viver a minha vida assim. Não fui habituado assim. É certo que não sou perfeito. Também gosto dos meus excessos, do meu copo a mais, da minha directa, das minhas loucuras. Mas não apregoo ao mundo o que fiz. Não partilho instantaneamente quando estou a comer sushi (sushi não, que não gosto), ou fotos em que aparecem as mãos e fazemos todos uma estrelinha, ou um brinde com copos quase vazios porque o que lá falta já foi para dentro.
Partilho com quem esteve comigo, numa mesa de café, entre a modorra de cigarros, águas das pedras e cafés. E fica ali. Ali nasce, ali morre. Não tenho que provar nada a ninguém. Que tenho, ou deixo de ter dinheiro, para fazer isto e aquilo.
Tenho que o provar a mim.
Já fui assim, como as pessoas que critico. E revejo-me como era nos "seres" que co-habitam comigo na rua.
Tento mudar mentalidades. De cada vez que faço uma colónia de férias, tento mudar mentalidades. Tento que no espaço de uma, duas semanas absorvam e retirem algo de mim. Mais que não seja para não se enfiarem nos buracos onde me enfiei. Sinto-me como um irmão mais velho. E, faço-o sempre com os mais "problemáticos", com os mais "pintas". E por vezes ouvem-me.
Numa semana sou irmão, amigo, conselheiro, pai, mãe, avó, cão, periquito. Umas vezes um Hitler outras um Ghandi. Com uns laivos de Casanova admito (quando há algum casalinho que precisa de um empurrão - delicioso). E desgasta-me. O lado óptimo é o que retiro deles, o que observo. E comparo com a minha geração. Fazia igual. E pior. É por isso que lhes digo que não há nada que não pensem em fazer, em teoria, que eu já não tenha feita na prática.
Basta que um me oiça e mude (como já aconteceu - grande miúdo!) e o
que ando ali a fazer, além dos saltos e palhaçadas, já vale a pena.
Podemos não conseguir mudar o Mundo mas podemos tentar e mostrar que queremos ser a diferença
Não faço isto por mim. Não é por ter uma t-shirt amarela a dizer "Monitor" nas costas que de repente sou o melhor ou mais que os outros. Sou sim, o exemplo, o roll-model daqueles dias. E é uma responsabilidade tremenda. É inevitável criar laços. 24h sobre 24h acaba por fazer alguma mossa.
É óptimo ouvir que somos o melhor de sempre, o mais divertido, mesmo que seja só durante aquele periodo de tempo. É bom ir à cama às quatro, cinco da manhã para me levantar às oito mas com o sentimento de dever cumprido. Que eles estão completamente rebentados porque o dia foi a rasgar. E nós, mais rebentados estamos, porque se não puxarmos por eles, se não levarmos nós as coisas para a frente toda aquela máquina não anda. Depende de nós o estado de espírito de toda uma colónia de férias. A ansiedade do "o que vamos fazer hoje" depende de nós.
Fizeram-no por mim quando era miúdo. Monitores que me marcaram, que me ensinaram, deram na cabeça, ralharam comigo. E aprendi com eles. Acho que é meu dever fazer algo também por estes miúdos de hoje.
Apesar do que vejo, seja durante o verão com eles ou durante os dias e (principalmente) as noites há esperança. Ainda há pessoas que, por momentos, nos surpreendem. E retiramos sempre algo delas. Apesar de efémero, surpreendem.
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