domingo, 13 de abril de 2014

Voz

Eu vou deixar que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces. Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida. E, eu sinto que no meu gesto existe o teu gesto e na minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em mim tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim: como a fé nos desesperados. Para que eu possa levar uma gota de orvalho desta terra amaldiçoada. O que ficou sobre o meu corpo como uma nódoa do passado. Eu vou deixar... tu irás e encostarás a tua face noutra face. Os teus dedos vão-se entrelaçar noutros dedos e tu vais acordar para ver a madrugada. Mas tu nunca saberás que quem te escolheu fui eu, porque eu sou o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua voz. Porque meus dedos entrelaçaram os dedos da névoa suspensa no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os barcos nos portos silenciosos. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das estrelas serão a tua voz presente, a tua voz ausente.

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