quarta-feira, 23 de abril de 2014

Desfado


"Quer o destino que eu não creia no destino, e o meu fado é nem ter fado nenhum.
Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido - senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum.

Ai que tristeza, esta minha alegria! Ai que alegria, esta tão grande tristeza...
Esperar que um dia eu não espere mais um dia... por aquela que nunca vem e que aqui esteve presente.

Ai que saudade... Que eu tenho de ter saudade! Saudades de ter alguém, que aqui está e não existe.
Sentir-me triste só por me sentir tão bem e, alegre sentir-me bem só por eu andar tão triste.

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse". E lamentasse não ter mais nenhum lamento.
Talvez ouvisse no silêncio que fizesse uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro.

Ai que desgraça esta sorte que me assiste! Ai mas que sorte eu viver tão desgraçado... Na incerteza que nada mais certo existe, além da grande certeza de não estar certo de nada..."

Ana Moura - Desfado

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