sexta-feira, 4 de abril de 2014

Vento

 Também acordas como eu acordo, esquecida do que é que doi ou onde doi, até que te mexes? Há um segundo de consciência que é claro. Um segundo em que és tu, sem memória ou experiência, o animal que acorda para um mundo novinho em folha. Há o sol que dissolve a noite, a luz mais clara que a música, que te enche o quarto onde dormes e os outros espaços por detrás dos teus olhos.

Disseste-me "Amo-te". Porque é que isso é a coisa mais banal que alguém pode dizer a alguém e, mesmo assim, é aquilo por que mais ansiamos ouvir. "Amo-te" é sempre uma frase. Não o disseste ao inicio, nem eu o disse. Mas, quando tu o dizes e quando eu o digo, falamos como selvagens que encontraram uma palavra e a veneram. Eu sei que a venerei mas agora estou sozinho em cima de uma rocha, fora do meu próprio corpo.
Eu era feliz, mas "feliz" é uma palavra de adulto. Nunca tens de perguntar a uma criança se ela é feliz. Elas são ou não são. Nós, adultos, falamos de como somos ou podemos ser felizes mas maioritariamente não o somos. Falar sobre isso é a mesma coisa que tentar agarrar o vento que passa. É muito mais fácil deixá-lo passar por ti.

Sem comentários:

Enviar um comentário