quarta-feira, 30 de abril de 2014

Acredito

Eu acredito que há coisas que são verdade e há coisas que são falsas. E consigo acreditar em coisas, que ninguém sabe se são verdade ou não.

Posso acreditar no Pai Natal ou no Coelho da Páscoa e nos Beatles, na Marylin Monroe e no Elvis. Acredito que as pessoas são aperfeiçoáveis, que o conhecimento é infinito, e que o mundo é dirigido por carteis secretos e que é visitado por aliens muitas vezes - pelos bonzinhos que nos veêm de longe e, pelos maus que nos matam o gado e querem a nossa água e as nossas mulheres.

Acredito que o futuro é uma porcaria e acredito que o futuro seja algo apetecível. E acredito que o Dom Sebastião ainda vai aparecer numa manhã de nevoeiro. Acredito que, nós os homens somos rapazes em ponto grande com graves problemas de comunicação e, que o declinío do chamado "sexo e do bom" é por não termos cinemas drive-in ao ar livre.

Acredito que todos os políticos não monstros sem princípios e ainda acredito que sejam melhor que as alternativas. Acredito que a California se vai afundar no mar, quando houver um terramoto dos grandes. E que a Atlântida ainda vai aparecer debaixo das ondas.

Acredito que o sabão antibacteriano nos está a destruir a resistências à sujidade e que um dia vamos ser exterminados pelos marcianos como na Guerra dos Mundos.

Acredito que o destino da humanidade esteja nas estrelas. Acredito que os doces sabiam melhor quando eu era criança, que é aerodinamicamente impossível para um escaravelho voar, que a luz é uma onda e que há um gato numa caixa que está morto e vivo ao mesmo tempo (apesar de, se não abrirem a caixa para alimentarem o bicho vamos ter duas causas de morte), e que há estrelas no universo biliões de anos mais velhas que o universo em si.

Acredito que qualquer pessoa que diga que o sexo é demasiado valorizado, nunca o tenha feito como deve de ser. Acredito que qualquer pessoa que afirme que sabe o que se está a passar, minta acerca de pequenas coisas.

Acredito na honestidade absoluta e nas mentiras sociais.

Acredito que a vida é um jogo, é uma piada cruel, e que a vida é o que acontece quando estás vivo e que, já agora, nos podemos encostar e disfrutar dela.

sábado, 26 de abril de 2014

Vida

À medida que crescemos, aprendemos que mesmo aquela pessoa que não nos devia desiludir vai fazê-lo.
Vais andar de coração partido mas, vais partir corações. Vais discutir com os teus melhores amigos e, provavelmente, até te apaixonas por uma ou outra. E vais chorar porque o tempo vai passar. 
Então, tira fotografias, ri-te demasiado e ama como se nunca te tivessem magoado.
A vida chega sem garantias, sem paragens e sem segundas opurtunidades.
Apenas tens que viver a vida ao máximo, dizer às pessoas o que elas significam para ti, deixares certas pessoas irem de vez, dizer tudo o que tens para dizer, dançar à chuva, andar de mão dada, confortar um amigo, adormecer enquanto vês o nascer do sol, ficar acordado até tarde, seres motivo de flirt, e sorrir até que te doa a cara.
Não tenhas medo de arriscar e de te apaixonares mas, sobretudo viver: porque cada segundo que passas zangado ou preocupado é menos um segundo de felicidade que nunca vais recuperar...

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Desfado


"Quer o destino que eu não creia no destino, e o meu fado é nem ter fado nenhum.
Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido - senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum.

Ai que tristeza, esta minha alegria! Ai que alegria, esta tão grande tristeza...
Esperar que um dia eu não espere mais um dia... por aquela que nunca vem e que aqui esteve presente.

Ai que saudade... Que eu tenho de ter saudade! Saudades de ter alguém, que aqui está e não existe.
Sentir-me triste só por me sentir tão bem e, alegre sentir-me bem só por eu andar tão triste.

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse". E lamentasse não ter mais nenhum lamento.
Talvez ouvisse no silêncio que fizesse uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro.

Ai que desgraça esta sorte que me assiste! Ai mas que sorte eu viver tão desgraçado... Na incerteza que nada mais certo existe, além da grande certeza de não estar certo de nada..."

Ana Moura - Desfado

terça-feira, 22 de abril de 2014

E tu? Coras?

É engraçado, quando as pessoas te chamam "envergonhado", normalmente sorriem. Como se fosse fofinho, um hábito engraçado do qual te vais ter que livrar quando cresceres. Se soubessem como me sinto - ser realmente envergonhado, não apenas inseguro - não sorririam. Não, se soubessem como isto é como um pontapé no estômago, como as palmas das mãos suam ou como isto te rouba a habilidade de dizer algo que faça sentido. Não é mesmo nada fofinho.

E o silêncio entre nós cresce, mas não é estranho. Às vezes há pessoas com quem podes ser e estar calmo e, nunca tens necessidade de preencher aquele espaço entre conversas sem sentido. 

Começo a ter a certeza que o facto de amarmos alguém, requer um salto de fé e que uma aterragem suave nunca, nunca está garantida.
Nenhuma relação é perfeita. Nunca. Temos sempre de nos dobrar, de nos comprometer, de dar algo de modo a ganhar algo maior. O amor que temos um pelo outro é maior que estas pequenas diferenças. E aí é que está a chave.
O amor compensa por muito.

Nunca há tempo e espaço certo para o amor. Acontece acidentalmente, num batimento cardíaco, num flash, num momento.
E há um momento em que o mundo fica sossegado e a única coisa que resta é o teu coração. Então, é melhor aprenderes o som do teu coração. De outro modo nunca vais perceber o que ele te quer dizer

E sei que significou algo para ti. Os nossos olhos cruzaram-se só por um instante. Também significou algo para mim. 
E eu que pensava que tinha só sido eu.



domingo, 20 de abril de 2014

Má coisa

Disse que tudo o que queria de ti era, ver o teu amanhã. E todos os amanhãs daí para a frente. Talvez me emprestes o teu coração.
É muito pedir-te todos os Domingos e, já agora que estamos nisto dá-me também outro dia qualquer.

Sei que as pessoas fazem sempre promessas mas, vão-se embora e quebram-nas.
Quando alguém corta o teu coração com uma faca quando ainda está a bater, eu posso ser aquele que o vai conseguir curar. E não vou parar até acreditares, porque tu mereces isso.
Então não ajas como se fosse uma coisa má deixares-te apaixonar por mim.
Porque podes fazer porcaria e, descobrir que os sonhos podem ser reais comigo. Podes gastar todo o teu tempo e dinheiro só para perceberes que o que te dou é grátis.

E que tal eu ser a última voz que ouves à noite? E em todas as outras noites e, nas noites que restam.
E todas as manhãs te quero ver a olhar para mim, porque isso é um bom começo.

Não te vou encher a cabeça nem quebrar promessas, nem desperdiçar o teu tempo. E se caíres, cais-me sempre nos braços.

E talvez descubras que não é uma má coisa, voltares a apaixonar-te por mim.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Em reparações

Demasiadas sombras no meu quarto. Demasiadas horas nesta meia-noite. Demasiadas esquinas na minha mente. Tanto para fazer, para pôr o meu coração direito.
Está a levar tanto tempo que posso estar errado, que posso estar preparado - mas se seguir o conselho que ele me dá tenho de admitir que ainda está instável.

Parei numa esquina por um bocado, só à espera que o vento passasse por mim. Na esperança que levasse tudo aquilo que eu era, e me traga um pouco mais de sorte.
E enquanto passo no parque penso que, talvez, as coisas fiquem verdes outra vez.
Era bom ouvir-te dizer que me conheces.
Estou em reparações, mas estou a chegar lá.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Um dia qualquer

Num dia qualquer, tudo vai fazer sentido mas, por agora, ri-te da confusão e sorri através das lágrimas.
Sê forte e, lembra-te sempre que tudo acontece por uma razão.
E às vezes dizes a alguém para nunca mais te falar, para nunca mais te ligar. Mas, quando o telefone toca espera que seja esse alguém. É a lógica mais torcida de sempre. 

Acabo por ser um arquitecto de dias que ainda não aconteceram.
E todas as noites vejo o estado do tempo para onde tu estás.  Só para saber se consegues ver as estrelas. É, talvez, o meu único direito.
Quanto mais escondes o que sentes por alguém, mais te apaixonas.

E eu ainda não sei se me apaixonei por ti, se pelo sonho que fiz de ti.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Chuva

Há centenas de coisas que ele tentou perseguir. Coisas de que ele não se vai lembrar e, que ele não se vai deixar sequer pensar porque quando o faz, na mente dele está sempre a chover devagar...

E tu vais ouvir dizer que ele saiu do país, que há uma coisa com que ele gostava que ficasses - mas perde-se antes que chegue a ti. E, uma noite o teu telefone vai tocar - uma voz, que pode ser a dele, vai dizer qualquer coisa que tu não vais conseguir entender, antes da chamada cair.

E, anos depois, através da janela de um táxi, tu vês alguém na entrada de um prédio que se parece mesmo com ele. Mas, ele vai começar a andar antes de conseguires convencer o taxi a parar. E nunca mais o vais ver.

E sempre que chover, vais pensar nele.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

O sal da nossa pele


Faz meses desde que nós gravámos os nossos nomes um no outro.
Antes de tudo mudar, eramos miúdos com os olhos grandes a obsorver o mundo
Com o sal na nossa pele. E nós lançávamos os nossos papagaios ao vento. E eles voavam e voavam.
Faz meses, desde que sussurrámos com a lanterna ligada e a luz apagada
Em que estávamos cansados com sabão na nossa pele
E nós caímos no sono ao vento.E nós sonhamos e sonhamos.
E em daqui a algum tempo, quando a luz da lanterna enfraquecer, eas tatuagens que gravámos começarem a desaparecer. não seremos mais miúdos.
Teremos linhas na nossa pele, e elas vão direccionar o nosso pó ao vento.


Porque nós somos círculos. Damos voltas à volta do sol. Vou ser um círculo à tua volta e tu, vais ser um círculo ao meu redor.

domingo, 13 de abril de 2014

Voz

Eu vou deixar que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces. Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida. E, eu sinto que no meu gesto existe o teu gesto e na minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em mim tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim: como a fé nos desesperados. Para que eu possa levar uma gota de orvalho desta terra amaldiçoada. O que ficou sobre o meu corpo como uma nódoa do passado. Eu vou deixar... tu irás e encostarás a tua face noutra face. Os teus dedos vão-se entrelaçar noutros dedos e tu vais acordar para ver a madrugada. Mas tu nunca saberás que quem te escolheu fui eu, porque eu sou o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua voz. Porque meus dedos entrelaçaram os dedos da névoa suspensa no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os barcos nos portos silenciosos. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das estrelas serão a tua voz presente, a tua voz ausente.

sábado, 12 de abril de 2014

Mentiras

Mentira 1: Só existe o presente, não há nada para nos lembrarmos;
Mentira 2: O tempo é uma linha recta;
Mentira 3: A diferença entre o passado e o futuro é que um já aconteceu e o outro não;
Mentira 4: Só podemos estar num local de cada vez;
Mentira 5: Qualquer proposição que contenha a palavra "finito" ( o mundo, o universo, experiencia, nós mesmos...)
Mentira 6: A realidade é algo com que temos que concordar;
Mentira 7: A realidade é a verdade.



sexta-feira, 11 de abril de 2014

RAM

Até o espirito mais orgulhoso pode ser quebrado pelo amor. Porque o amor faz parte dos sonhos. O amor pertence ao desejo, e o desejo é sempre cruel.

A memória é muito enganadora. Talvez, existam pessoas cuja memória seja como uma cassete que grava tudo e todos os pormenores: pormenores diários, de toda a sua vida até ao mais ínfimo detalhe...Mas acho que não sou uma dessas pessoas. A minha memória é uma colagem de momentos, de eventos descontínuos mal cosidos uns aos outros. As partes de que me lembro, lembro-me precisamente. Há outras secções que, parecem ter desaparecido completamente.

O que queria que soubesses é que não me é dificil encontrar-te na minha mente. Ainda lá estás, como um fantasma, um sussuro. Ainda à pouco tempo ardeste em mim.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Tudo ou Nada

Alcançar a felicidade (e eu fi-lo, e ainda o faço) não é a mesma coisa que ser feliz - penso que é fugaz, dependendo das circunstâncias... Se o sol brilha, fica nele - sim. 
Os tempos felizes são óptimos, mas são tempos que passam - tem de ser assim porque o tempo em si, passa. 
O tentar alcançar a felicidade é mais esquivo; dura a vida toda, e não é um objectivo em si. O que tu persegues faz sentido - a vida com algum significado. Há o "aconteceu" - o destino, a linha que é tua, e que nunca está fixa. Muda com o sabor da corrente, ou com o virar de novas cartas, seja qual for a metáfora que uses. Isso vai acabar por te consumir imensa energia. 
Há alturas em que estás tão errado que quase não estás vivo, e há alturas em que percebes isso.
É melhor viver uma meia-vida cheia, do que viver em função de alguém.
A procura não é o tudo ou nada. É o tudo e o nada.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Medo do escuro

Às vezes acordamos. Às vezes a queda mata-nos. E, às vezes, ao cairmos - voamos.


Toda a gente tem um mundo secreto por dentro. E digo toda a gente. Todas as pessoas espalhadas neste mundo, digo mesmo toda a gente - não interessa quanto desinteressante e chatos sejam por fora. Por dentro, todos têm um inimaginável, magnífico, espectacular, estúpido, incrível mundo... E não um só. Centenas deles. Milhares, talvez.

As pessoas acham que os sonhos não são reais só porque não são feitos de matéria, de partículas. Mas são feitos de pontos de vista, de imagens, de memórias e esperanças perdidas.
Por isso é que, quando nos abraçamos no escuro, isso não faz com que o escuro desapareça. As coisas más ainda lá estão. Os pesadelos ainda caminham. Quando nos abraçamos não nos sentimos seguros, mas melhor. "Está tudo bem" - sussurramos - "Estou aqui, amo-te". E mentimos: "Nunca te vou deixar". E por um momento ou dois, o escuro não parece tão mau.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Só a fingir que sim


Estava tudo bem. Até, alguém estúpido, que não é diferente de qualquer outra pessoa estúpida, entrar de rompante na tua vida... E dás-lhe um pedaço de ti. E, o mais giro, é que ninguém te pediu nada. Há um dia em que fazem algo de parvo como beijar-te ou sorrir para ti e aí, a tua vida já não é mais tua.
E tu tens um bom coração. Às vezes é o suficiente para estares seguro de ti aonde quer que vás. Mas, na maior parte das vezes, não é. Eu gosto das estrelas. Acho que é a ilusão da permanência. Elas estão sempre a brilhar, a ir e a vir. Mas de onde... e aí posso fingir, imaginar que as coisas duram. Posso fingir que a vida dura mais que uns momentos. Nós mortais, acendemo-nos, ardemos e acabamos. Os mundos não duram; e as estrelas, e as galáxias são transitórias, coisas que flutuam e brilham como pequenos pirilampos até que desaparecem em pó, no frio. Mas posso fingir...
Até o nada pode durar para sempre. Mas tens de acreditar, senão nunca vai acontecer.
E as pessoas querem esquecer o impossível. Isso faz com que o mundo seja mais seguro.

Mas como podes fugir de algo e voltar sempre ao mesmo?

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O grande salto

Não tropeças no amor como tropeças num buraco. Tropeças como se fosses cair no espaço. É como se saltasses do teu próprio planeta para visitar o planeta de alguém. E quando lá chegas tudo te parece diferente: as flores, os animais, as cores que as pessoas vestem. É uma grande surpresa tropeçares no amor porque pensavas que tinhas tudo o que precisas no teu planeta e, acaba por ser verdade em certa maneira, mas quando alguém acende uma luz no meio do espaço a única maneira de a visitares é dares um grande salto. E lá vais tu, a cair na órbita de algúem e passado um tempo podes decidir puxar os dois planetas e chamar-lhe casa. E podes levar o teu cão. Ou o teu gato. O teu peixinho, hamster, a tua colecção de pedras e todas as tuas meias velhas (mesmo as que perdeste, incluindo as que têm buracos estão nesse novo planeta que encontraste).

E podes pedir aos teus amigos para te visitarem. E lêem as vossas histórias preferidas um ao outro. E o tropeçar foi, na realidade, o grande salto que tiveste de dar para estares com alguém. E é assim.


PS: Tens de ter coragem.

 

domingo, 6 de abril de 2014

Espelho

Dizem que o amor escraviza. E que a paixão, não é mais que um demónio. E que muitos estiveram perdidos de amor.
Sei que isto é verdade,mas também sei que sem amor estaríamos a rastejar em túneis e nunca veríamos o céu.
Quando me apaixonei foi como se eu olhasse para um espelho pela primeira vez e me visse. Levantei a minha mão e senti a minha cara, o meu pescoço. Isto sou eu. E enquanto olhava para mim e me habituava a quem era, não tinha medo de me odiar: porque queria ser digno de quem me segurava o espelho.


Probabilidade

Caminha comigo, mão na mão através das luzes de neon e a espuma. Por cima das lâminas e dos corações partidos. Por cima da sorte e dos que são perseguidos por ela. Por cima dos restaurantes e dos rastos de estrelas.
Sei que sou um idiota, à espera que a poeira e a glória sejam uma espécie de tinta luminosa; as humilhações e exaltações que nos elevam. Eu vejo como um insecto, tudo demasiado grande, a pressão do infinito a martelar-me na cabeça. Mas como é que se pode viver, verticalmente como eu o faço, sendo puxado para cima e para baixo simultâneamente? Nem quero assumir que me possas entender. É como quando quero inventar o que te quero dizer, tu vais querer inventar o que queres ouvir. 
Que história que temos. Palavras escritas em papel amachucado. Um sinal, uma luz ténue através do espaço um do outro.
A probabilidade de dois mundos se encontrarem é muito pequena. É uma imensidão demasiado grande. Mas, mesmo assim, construímos naves. E, mesmo assim, apaixonamo-nos.

sábado, 5 de abril de 2014

Romance

"Vais ultrapassar isto..." São os clichés que causam o problema. Quando perdes alguém que amas, alteras a tua vida. Não vais ultrapassar isto porque "isto" é a pessoa que amas. A dor pára, há pessoas novas, mas o buraco nunca é fechado. Como seria isso possível? As particularidades de alguém que te diz algo mais, o suficiente para estares assim dizem tudo. 
Este buraco em mim tem a tua forma e mais ninguém o consegue fechar. E porque é que eu quereria que algúem o fizesse?
E enquanto não te tenho, espero por ti. Sou o tipo de pessoa que era capaz de perder o comboio ou um voo só para tomar café contigo. Apanhava um táxi e, atravessava a cidade só para estar contigo dez minutos. Esperava à tua porta toda a noite se fosses tu a abrir-me a porta de manhã. Se me ligasses e dissesses "Podias..." a minha resposta era "Sim", mesmo antes de acabares a frase. Eu brinco com mundos onde possamos estar juntos. Sonho contigo.
Para mim sonhos e desejos estão muito próximos.

Talvez, o romance seja mesmo isso; não um contrato entre duas partes iguais mas uma explosão de sonhos e desejos que não se podem encontrar assim, no dia a dia. Só um drama é que servirá e enquanto o fogo de artificio durar, ao menos, o céu é de outra cor.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Vento

 Também acordas como eu acordo, esquecida do que é que doi ou onde doi, até que te mexes? Há um segundo de consciência que é claro. Um segundo em que és tu, sem memória ou experiência, o animal que acorda para um mundo novinho em folha. Há o sol que dissolve a noite, a luz mais clara que a música, que te enche o quarto onde dormes e os outros espaços por detrás dos teus olhos.

Disseste-me "Amo-te". Porque é que isso é a coisa mais banal que alguém pode dizer a alguém e, mesmo assim, é aquilo por que mais ansiamos ouvir. "Amo-te" é sempre uma frase. Não o disseste ao inicio, nem eu o disse. Mas, quando tu o dizes e quando eu o digo, falamos como selvagens que encontraram uma palavra e a veneram. Eu sei que a venerei mas agora estou sozinho em cima de uma rocha, fora do meu próprio corpo.
Eu era feliz, mas "feliz" é uma palavra de adulto. Nunca tens de perguntar a uma criança se ela é feliz. Elas são ou não são. Nós, adultos, falamos de como somos ou podemos ser felizes mas maioritariamente não o somos. Falar sobre isso é a mesma coisa que tentar agarrar o vento que passa. É muito mais fácil deixá-lo passar por ti.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Momento certo

Eles amam-se. Toda a gente sabe mas ninguém acredita. Não conseguem ficar juntos. Simples. Complexo. Quase impossível. Ele continua a viver a sua vida idealizada e ela continua a idealizar a sua vida. Alguns dizem que jamais daria certo. Outros dizem que foram feitos um para o outro. Eles preferem não dizer nada. Preferem meias palavras e milhares de coisas não ditas. Ela quer atitudes, ele quer ela. Todas as noites ela pensa nele, e todas as manhãs ele pensa nela. E assim vão vivendo até quando a vontade de estar com o outro for maior do que os outros. Enquanto o mundo vive lá fora, dentro de cada um está um pedaço do outro. E mesmo sorrindo por aí, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serão os mesmos. É fácil porque os dias passam rápidos demais, é difícil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece dentro deles. E todos os dias eles perguntam-se sobre o que fazer. E imaginam os abraços, as noites com dores nas costas esquecidas pelo primeiro sorriso do outro. E que no momento certo se reencontrem que nada, nada seja por acaso.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Peter Pan

Um dia chega a mim a calma. O meu Peter Pan hoje ameaça-me. Aqui há pouco que fazer.
Sinto-me noutra rua, numa de estar em casa sozinho. Será culpa da tua pele?
Será que cresci, que alguma coisa tocou neste botão para que o Peter Pan se vá embora?
E talvez viva agora melhor, melhor comigo e com o meu interior.
Que a Sininho cuide de ti e te guarde...
Às vezes gritas aí do cimo, do céu, para destruires a minha calma. Comigo já não tentes nada: parece que o amor me acalma.
Se levas a minha infância, leva o que sobrou dela em mim. Se te vais embora, vou conseguir viver com a paz que preciso e pela qual tanto ansiei.
Passaste um bom dia junto a mim, parecia que querias ficar. Não havia maneira de saber.
Vais-me perseguindo  como um trovão, como um relâmpago azul.
Quando te fores embora crescerei e, encontro tantas partes que tinha esquecido.
Vê que já chegou o tempo, tenho paz e é o momento de crescer.

Espero que não volte mais, que fique quietinho como está, que ele de mim já teve bastante.
Foi uma fase para não mais esquecer, uma fase má que agora quer descansar.

Que a Sininho cuide de ti e que te guarde.


terça-feira, 1 de abril de 2014

Nos desenhos animados nunca acaba mal

"Eu quero a sorte de um cartoon, nas manhãs da RTP1. Sou o teu Tom Sawyer e o teu Huckleberry Finn, e vou de mascarilha e espadachim. Lá em cima há planetas sem fim. Queria ser o teu super-heroí, sem tirar o chapéu de cowboy. Com o meu galeão e uma garrafa de rum, eras minha e de mais nenhum.
Um por todos e todos por um.
Nos desenhos animados, eu já conheço o fim: o bem abre caminho a golpe de espadachim. E o papel de príncipe encantado sobra sempre para mim.
Tu és Jane e eu Tarzan, Julieta e eu D'Artagnan. Se o teu cavalo falasse, tinha tanto para contar aos fantasmas debaixo dos meus lençoís. Dos tesouros que escondemos dos espanhois.
E quando chegar o final, já podemos mudar de canal. Nos desenhos animados é raro chover. 
E nunca, quase nunca acaba mal."

Nos desenhos animados - Os Azeitonas (adaptado)