sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Superstições...?

Sexta-feira 13

"Vamos a um bar novo que ouvir falar"
"Meh, por mim tudo bem...Não tenho grande coisa para fazer..."

Arrancamos. Para fazer tempo, agarramos umas cervejas. Entre estar na rua, estalar costas, alinhar cervicais, mais um ou outro cigarro, umas pingas de cerveja entornada e conversas sem nexo está na hora.

"Gaita, alguém sabe onde fica aquilo?" Perguntamos. É o mais fácil e prático em vez de andarmos às voltas.
Até porque a gasolina está cara.

"É isto?"
"Dá lá uma hipótese a isto, que se lixe...viemos ver numa boa..."

Damos entrada. Pequeno mas porreiro. Meia dúzia de pessoas. Com a maior lata, arranjamos mesa.
Gin's tónicos, vodkas pretas... Sempre com aquela sensação que toda a gente tem quando está num sitio novo. Observamos tudo e, sentimo-nos observados. Não pelas pessoas, mas pelo espaço em si. É como um medir de forças.

"Olha lá, é impressão minha ou estão a olhar para mim?"
"Estão sim, mas não vale a pena nem te dou o meu apoio com aquilo..."
Viro-me...Jesus! Ok, obrigado mas, não obrigado!

Mais uns copos. E um maço já foi, também já ia a mais de metade. Não tem problema, tenho outro.
Levanto-me, já cheio e farto de estar sentado.
Um par de olhos fixa os meus. Wow! O que é que se passa? Já tive muitos contactos visuais e até mais que isso na noite. E de noite, tenho muito. O ar fica mais pesado, há uma linha invisivel que me prende àquele olhar. E quero mais. Olhamo-nos continuamente. E desviamos o olhar. Mas não aguentamos muito. Tento fazer-me de indiferente, para ver se é mesmo comigo.

"Opá, estão a olhar para mim outra vez..."
"Quem?"
"Ali, por detrás daquele pilar..."
"Ok, aquela aprovo..."

Até me tremem as pernas. E continuamos neste jogo que já passou a sedução, e escalou para uma curiosidade. Há electricidade no ar. Chama-lhe acaso, destino, karma, premonição. O que te der mais jeito.
Há algo inerente a nós, que se vinculou naquele momento.
Vou buscar mais um copo, para limpar as ideias. Nunca me tinha acontecido, criar algo com quem nunca falei e de quem nem sei nada. Volto. Cai-me tudo aos pés. Estás ali à minha frente, com o olhar mais envergonhado que já vi. E apresentam-nos. Alguém deu em anjo da guarda e sentiu que havia entre nós algo mais. Que eramos material para mais que uma noite.

Conversa fiada, os minutos passam. Há todo um enredo à nossa volta, uma expectativa. Não cedemos um milímetro.
E agora? Puxo-te para dançar? Continuamos a olhar-nos, mas agora mais de perto. Não aguento mais. Passo-te um braço pela cintura e puxo-te. Passas os teus pelo meu pescoço e puxas-me. Sinto-me bem nos teus braços.
O bar gira à minha volta. Não sei se sou eu que estou zonzo, se é do alcóol se é do momento em si. Aposto mais no momento.
Nem a um palmo estamos e continuamos a olhar-nos.
Finalmente, cedemos. Caímos nos lábios um do outro. Sabes-me bem. Sabes-me a diferença, a algo mais que não consigo explicar. Não o consegui até agora e acho que não vou conseguir.

Não sei quanto tempo passou, quem estava à minha volta. Fazem-me sinal. Tenho de ir. Tu ainda ficas.
Peço-te o número. Tenho de saber mais. Quero mais e mais. Quero saber o que aconteceu.

Chego a casa, caio na cama.
Acordo em sobressalto de manhã. Ela. Aquele olhar, aquilo tudo. O número! Pego rapidamente no telemóvel e mando mensagem...

Chama-lhe o que quiseres. Eu chamo-lhe Destino.

Sexta-feira 13? Superstições? Rompemos com isso.

"Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem." Miguel Esteves Cardoso

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